Grazi Massafera: vilão doce em 'Tempos modernos'. (Foto: Divulgação / TV Globo)
Estreia nesta segunda-feira (11) na TV Globo “Tempos modernos”, nova trama das sete, protagonizada por Antonio Fagundes e que traz Grazi Massafera na pele de sua primeira vilã. “Chamar para fazer a vilã uma atriz que é reconhecidamente vilã, não seria tão forte. Quando estávamos pensando no elenco me deu esse estalo, de escolher uma pessoa que fosse reconhecida como uma pessoa doce. E a Grazi entrou de cabeça no projeto, gostou da ideia, embarcou, foi treinar no Bope... Ela está ótima, está de rolar de rir”, conta Bosco Brasil, autor da trama.
A novela promete discutir como a tecnologia vem influenciando e transformando a vida das pessoas –apesar de o autor dizer que não se liga muito no assunto. “Estou escrevendo isso porque sou um atrapalhado. Estou colocando lá as minhas angústias, para ver se exorcizo um pouco meus problemas. As pessoas riem de mim, porque o computador para mim não é mais do que uma máquina de escrever rápida.”
“Tempos modernos” contará a história de Leal (Fagundes), um homem que começou a trabalhar muito cedo e, agora, com um império construído, sente que não viveu direito. Pensa, então, em dividir tudo o que tem entre as filhas, interpretadas por Fernanda Vasconcellos, Viviane Pasmanter e Regiane Alves –sucessão que se tornará um grande problema em sua vida. De olho na fortuna do empresário estão os vilões Albano (Guilherme Weber) e Deodora (Grazi). “Os vilões são aqueles que realmente fazem grandes maldades, mas podemos dar risada deles. Eles também se dão mal”, adianta o autor.
Leia, abaixo, trechos da entrevista que ele deu ao G1.
G1 – Explique sobre o tema da novela e o que exatamente você quer mostrar com “Tempos modernos”.
Bosco Brasil – O que me moveu mais foi uma percepção antiga do aumento da segurança privada. Não sei os números exatamente, mas sei que os valores gastos em segurança privada ou se equipararam ou já ultrapassaram os valores investidos em segurança pública. Então, vou falar desse aspecto de abrirmos mão de nossa liberdade por conta da segurança. As pessoas se preocupam de tal maneira que vivem quase em presídios. E isso é problemático, é quase um desafio à democracia. Mas minha ideia sempre foi contar essa história de forma engraçada, porque acredito que o riso seja mais eficiente do que as lágrimas, nesses casos.
G1 – Como vai mostrar essa parte da tecnologia?
Brasil – O mais importante é saber que nessa novela vamos trabalhar sempre em contraste. Na verdade, eu não vou falar da tecnologia, vou falar do ser humano. Do aspecto desumanizador dessa tecnologia, que é o que me preocupa. Eu não acho que a tecnologia ou os aparelhos tenham culpa nisso, seria uma imbecilidade. Mas os seres humanos abrem mão de sua humanidade. O que me interessa mais são as histórias de cada personagem dentro de seus problemas diários, os problemas mais humanos possíveis: o amor não-correspondido, o desejo de poder, a relação difícil entre pai e filha. A tecnologia vai funcionar para deixar bem claro esse contraste. Quem vai usar isso pelo mal é o Albano e a Deodora, que são os vilões. Eles usam sistemas de vigilância, microcâmeras colocadas em robozinhos...
Bosco Brasil, o autor de 'Tempos modernos'. (Foto: Divulgação / TV Globo)
G1 – Como tudo isso é mostrado na novela? Você tem a ideia e a equipe faz? É fácil?
Brasil – Até agora não ouvi nenhum não. O diretor José Luiz Villamarim é um parceirão, está a fim de fazer o melhor. E nessa parte de computação gráfica, a Globo é muito boa. As animações que eu estou pedindo, essas “baratinhas-robôs”, eles fazem por animação, e é perfeito. O trabalho está ficando ótimo. Não tive problema nenhum. Toda bobagem que eu imaginei, eles toparam e me sugeriram outras (risos).
G1 – A novela terá muitos efeitos especiais?
Brasil – A gente vai brincar com várias linguagens, tipo história em quadrinhos, sonhos... E esse pessoal da computação gráfica vem ajudando bastante nisso.
G1 – Você entende de tecnologia?
Brasil – (Risos) Eu acho que estou escrevendo isso porque sou um atrapalhado. Estou colocando lá as minhas angústias, para ver se exorcizo um pouco meus problemas. As pessoas riem de mim, porque o computador para mim não é mais do que uma máquina de escrever rápida. Eu trabalho o dia todo, desligo e não faço mais nada. Pego emails, porque tem assunto de trabalho. Mas essas coisas de navegar, Twitter, Orkut, não tenho nada. É meu perfil, não é bronca da tecnologia, não. Tenho uma TV e um aparelho de som ótimos. Mas não tenho muita curiosidade quanto a isso.
G1 – Como foi a escolha de São Paulo como cenário e especialmente da região central?
Brasil – Só poderia ser em São Paulo. Embora eu tenha nascido em Sorocaba, fui para São Paulo com 4 anos de idade, cresci, estudei, me apaixonei, briguei, casei, descasei, fiquei pobre, fiquei rico, tudo em São Paulo. Só nos últimos anos me mudei para o Rio. O centro de São Paulo é uma grande paixão minha. Estudei no colégio São Bento, adorava matar aula e sair andando pelo centro. Depois fui trabalhar como office boy e continuei vivendo ali. Até hoje, é um passeio que faço. O centro para mim é uma paixão, porque vi ele ser “destruído”, na década de 70, com a construção do metrô, de prédios modernos. Então, aquele centro suntuoso que eu conheci na minha adolescência foi caindo. Minha geração passou por isso e sonhou em recuperar e revitalizar o centro, o que vem acontecendo um pouco nos últimos anos. Vou mostrar na novela o centro como eu acho que deveria ser e como pode ser daqui a um tempo. Quero fazer as pessoas se interessarem por aquela região. Não só sonho com isso, como acredito.
G1 – Essa é sua primeira novela como autor principal. Como tem sido o trabalho e a supervisão do Aguinaldo Silva?
Brasil – A gente corre tanto que nem sente as dores do parto, mas num balanço geral eu diria que entre as dores e os prazeres, os prazeres estão ganhando de longe. É muito legal porque posso ficar mais perto da ponta final da produção. É algo que eu gosto, e no teatro fazia muito. Estar lá, poder conversar o diretor de fotografia, com os atores, com o editor, ir na ilha de edição, tudo isso é um grande prazer. Compensa qualquer dificuldade. Quanto ao Aguinaldo, eu não me arriscaria a fazer a novela se não tivesse supervisão. Eu sei das minhas dificuldades, e a emissora merece esse cuidado, já que está investindo tanto. O Aguinaldo gosta muito do projeto e tem sido um companheiro imenso, tem me dado grande força.
Antonio Fagundes como Leal, entre as filhas Regiane Alves e Fernanda Vasconcellos. (Foto: Divulgação / TV Globo)
G1 – Como foi a escolha do Antonio Fagundes para o papel principal?
Brasil – O Fagundes encaixou como uma luva no personagem. A gente ficou pensando na necessidade de um grande ator nessa faixa de idade. Que seja um galã, mas que seja também um cara em que as pessoas acreditam. Nos conhecemos do teatro há muito tempo e, quando surgiu essa possibilidade, ele foi super receptivo. É a segunda vez na carreira dele que faz uma novela das sete, ele só fez novelas das oito. Então, foi um encontro muito bom. Tudo o que eu vejo dele está ótimo, ele está dando uma grande alavancada na novela.
G1 – A Grazi fará uma vilã. Já estão passando na TV algumas cenas dela lutando... Acho que é algo que poucas pessoas esperavam.
Brasil – (Risos) Como a novela tem esses pontos de contraste, chamar para fazer a vilã uma atriz que é reconhecidamente vilã, não seria tão forte. Ou seja, colocar um ator de comédia numa tragédia é surpreendente, e quando estávamos pensando no elenco me deu esse estalo, de escolher uma pessoa que fosse reconhecida como uma pessoa doce. E a Grazi entrou de cabeça no projeto, gostou da ideia, embarcou, foi treinar no Bope... Ela está ótima, está de rolar de rir. Os vilões de “Tempos modernos” são aqueles que realmente fazem grandes maldades, mas podemos dar risada deles, estão sempre se dando mal.
G1 – Como é substituir “Caras e bocas”, que foi um fenômeno para o horário das sete?
Brasil – Eu estreio muito aliviado, porque pegar um horário em cima para mim não é um problema. De uma coisa eu tenho certeza: todos nós da novela estamos dando o melhor. Sucesso é uma incógnita, mas estamos fazendo nosso melhor. Se o Walcyr [Carrasco, autor de ‘Caras e bocas’] fez esse trabalho excepcional de recuperar o horário, só tenho a agradecê-lo. Não vejo isso como problema. Não me sinto pressionado, fico totalmente à vontade.